CLOSING THE  DOORS

 Nesta semana a surpresa de ver uma grande escola de idiomas fechando suas portas depois de duas décadas servindo na Flórida… Inlingua Language School. Professora contratada como tutora de Português ali conheci colegas de várias nacionalidades, num ambiente hospitaleiro e rico de vivências tão espetaculares que tornam as relações docentes como sagradas. Fechar uma escola é fechar mundos, é um soco na boca do estômago! Públicas ou particulares, essas escolas de idiomas abrem as primeiras portas para quem chega e que depois terá uma convivência diária com pessoas dos mais diversos idiomas. Como um renascimento…seja qual for a idade.  Ser professor de adultos imigrantes é principalmente saber ouvir…e motivar!

Jorge é um professor cubano de inglês que conseguiu a cidadania há um mês. Trabalha em duas escolas e nos finais de semana limpa barcos e terrenos. Deixou em Cuba quatro filhos mais pai e mãe ambos engenheiros, irmã, sobrinha e cuja renda mensal não chega a 50 dólares. Sua preocupação e objetivo é ajudar sua família que ficou para trás. Domina sete idiomas entre eles o português e estuda para ser olheiro na Liga Americana de Beisebol em algum grande time, sonho que acaba ficando para trás em função do comprometimento financeiro que tem com aqueles de sangue e que ama.

Uma parte considerável do seu salário vai para as compras de roupas, comidas e principalmente remédios (sua mãe tem problemas cardíacos) que manda para Cuba, quando da ida de algum conhecido. As vezes sua companheira atual se aborrece por tanto compromisso no curto orçamento, mas ela mesma faz o mesmo, envia muita coisa para sua família em Havana.

Ana, venezuelana, professora de espanhol e advogada formada em Caracas, deixou seu esposo e mãe ali. Vive em Miami com seu filho músico e esposa, e sonha comprar um apartamento para juntar sua família, já que sua filha está trabalhando no México. Também estoca alimentos e remédios para mandar para a Venezuela. Ambos são gratos a este país.

Estremecem quando aparecem notícias de fechar as fronteiras em qualquer lugar do mundo. Conhecem a dor de quem partiu atrás de comida. E se as portas da vida se fecham, como sobreviver? Quantos Jorges e quantas Anas a nos ensinar…em tempos de incertezas e conectados em mundos líquidos…

Zygmunt Bauman:

“O mundo que chamo de “líquido” porque, como todos os líquidos, ele jamais se imobiliza nem conserva sua forma por muito tempo. Tudo ou quase tudo em nosso mundo está sempre em mudança: as modas que seguimos e os objetos que despertam nossa atenção; as coisas que sonhamos e que tememos, aquelas que desejamos e odiamos, as que nos enchem de esperanças e as que nos enchem de aflição. Esse mundo, nosso mundo líquido moderno, sempre nos surpreende; o que hoje parece correto e apropriado amanhã pode muito bem se tornar fútil, fantasioso ou lamentavelmente equivocado. Suspeitamos que isso possa acontecer e pensamos que, tal como o mundo que é nosso lar, nós, seus moradores, planejadores, atores, usuários e vítimas, devemos estar sempre prontos a mudar: todos precisam ser, como diz a palavra da moda, “flexíveis”.

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