A Biografia humana, suas crises e suas chances de desenvolvimento

A Dra. Gudrun Burkhard do movimento Antroposófico brasileiro tem um trabalho sobre os setênios (Editora Antroposófica) – a cada 7 anos passamos por uma transformação em nossa vida, poderíamos até dizer uma renovação, mais uma oportunidade para nos conhecermos.

Você consegue o PDF do trabalho na Internet.

Vamos adiantar algumas informações desse trabalho (trechos) que tem muito valor e grande auxílio:

A Biografia humana, suas crises e suas chances de desenvolvimento

Todos nós em algum momento de nossa vida, já tivemos a sensação de um mal-estar indefinido; não estamos doentes e nem sãos e chegamos a nos perguntar: O que está acontecendo comigo? Será que estou com alguma doença?” Vamos ao médico, mas este realmente não acha nada. Temos a impressão de que este “mal-estar” oculta um sentimento que às vezes está mais e outras vezes menos presente… parece que o “amor” acabou – não temos mais paciência com os filhos nem com os companheiros de trabalho. Enfim, sentimos que algo em nossa vida deveria mudar, mas não sabemos bem como, nem por onde começar. Estamos em “crise”. E qual é a natureza desta crise? Esta crise tem uma natureza que podemos denominá-la de biográfica. A vida vinha seguindo um rumo determinado, amadurecíamos com as vivências, vencíamos obstáculos, púnhamos de lado outros – enfim, durante anos e anos tínhamos aquela sensação de bem-estar, de que tudo ia bem. Porém, sem o percebermos, fomos nos tornando mais maduros e, ao mesmo tempo em que isso acontecia, nossas forças biológicas, que a partir dos 35 anos começam a diminuir, não aguentavam mais a nossa solicitação e, de repente, não conseguimos mais manter o equilíbrio adequado entre regeneração e desgaste, e isto nos levou a esta “crise”. O que descrevemos ocorre por volta dos 40 anos e ocorre em todos nós. Mas há outras crises, nas mais diversas idades. Também há aquelas crises ou situações que se repetem muitas vezes na vida de certas pessoas, que fazem com que elas, por exemplo, se sintam como “ovelhas negras” ou que usem frequentemente a expressão “sempre acontece comigo”. Há, portanto, crises e situações que só ocorrem comigo, bem individuais, e outras que não são tão individuais e que ocorrem em todo ser humano. Se então tentarmos descobrir o que por um lado é crise e o que, por outro lado, é chance de desenvolvimento, começamos a perceber o que faz parte do nosso destino muito individual e o que é comum a todo ser humano da civilização atual.

Esther Harding, aluna de Jung, compara nossa vida com as quatro estações do ano: a primavera – do nascimento até a maioridade, o verão – a maturidade, o outono – a fase entre os 40 e 60 anos e o inverno – a velhice. Assim como o lavrador tem de saber qual é a época apropriada para semear, colher, etc., o ser humano, para colher os frutos de sua vida, também poderá conhecer “as suas estações”. Poderá então arar aterra na época adequada; só que conhecer a própria terra e ará-la é um trabalho bem mais difícil que o do camponês. Na antiga China dizia-se que uma pessoa leva 20 anos para aprender, 20 anos para lutar e 20 anos para se tornar sábia. Até hoje, na China, as pessoas idosas são tratadas com honra e admiração. Hoje poderíamos expressar isto da seguinte forma: levamos 20 anos para” crescer ” , 20 anos para ” amadurecer psicologicamente” e 20 anos para “amadurecer espiritualmente”…

É justamente quando as forças biológicas diminuem que ele tem a possibilidade de se tornar sábio, de amadurecer espiritualmente o que não acontece com um animal. A nossa civilização parece ignorar isso. Hoje em dia, por exemplo, só se procuram candidatos a emprego com menos de 40 anos; a geriatria, através dos hormônios, procura manter o ser humano biologicamente jovem, e há pouco investimento no amadurecimento espiritual. Cabe, portanto conhecer as chances que cada idade oferece para melhor usá-las na sociedade e na vida pessoal.

…O amadurecimento espiritual significava a volta gradativa às alturas cósmicas, espirituais, tal qual uma pessoa que vai escalando uma montanha, e que tem diante de si um panorama que vai aumentando e que faz com que ela se preocupe cada vez menos com os detalhes da paisagem. A cada degrau, nossas qualidades anímicas (psíquicas) não só tem capacidade de se abrirem e desenvolverem, mas também de serem aplicadas na sociedade, na família e no trabalho. Através da Ciência Espiritual de Rudolf Steiner, temos novamente a possibilidade de compreensão dessas relações e do que ocorre nos diversos setênios, bem como da interligação do físico (biológico),anímico (psíquico) e espiritual em cada ser humano.

1º setênio – 0 a 7 anos a estruturação do corpo físico, base corpórea de nossa saúde – aos sete anos, a criança passa para uma nova fase, ela sai do ambiente doméstico, familiar, e vai para a escola. Para algumas, isto significa uma pequena crise e medo; para outras, um sentimento de autoafirmação, orgulho, libertação. o primeiro caso é facilmente superado pela habilidade de um bom professor.

2º setênio – 7 a 14 anos base para o amadurecimento psicológico do indivíduo

3º setênio – 14 a 21 anos a puberdade – o amadurecimento social do indivíduo – aos 21 anos – uma crise de identidade com o fim do terceiro setênio, atingimos a maturidade ou maioridade. Em torno do 21º ano de vida, para muitos jovens ocorrem crises violentas relativas à própria identidade. Muitos jovens têm de se libertar da imagem forte do pai, para conseguirem ser eles mesmos. O mesmo se dá com a filha quanto à influencia da mãe. Verdadeiros dramas acontecem em relação a isso. Muitos jovens só conseguem esta libertação da casa paterna ou materna, saindo de casa, mudando de lugar ou “quebrando” estas imagens com violência.

4º setênio – 21 a 28 anos a fase da alma emotiva ou sensitiva – a crise dos talentos dos 28 anos – em torno dos 28 anos, este viver do passado, por assim dizer, chega a um fim, e agora as aptidões têm que ser reconquistadas e trabalhadas.

5º setênio – 28 a 35 anos a fase da alma racional e afetiva

6º setênio – 35 a 42 anos a fase da alma da consciência – a crise existencial dos 42 anos – os 42 anos são sentidos como verdadeira crise existencial. A crise de autenticidade iniciada na fase anterior atinge seu auge. Os 42 anos inauguram os três setênios seguintes, os anos que os chineses chamavam de sábios. Mas como conseguir esta sabedoria? eis a grande questão. A partir desse momento não somos mais transportados pelas asas de nossa vitalidade. Temos que acender a nossa própria luz, ninguém mais a acenderá por nós.

7º setênio – 42 a 49 anos a fase social ou da alma imaginativa

8º setênio – 49 a 56 anos a fase da alma inspirativa ou fase moral

9º setênio – 56 a 63 anos a fase da alma intuitiva ou fase mística – pouco a pouco as portas para o mundo, os órgãos dos sentidos, vão se fechando, e a vida interior dos velhos é a parte mais importante. Quanto mais rica for, melhor eles se sentirão. Se ficarem voltados apenas para o materialismo, a mesquinhez em relação às suas posses pode se tornar excessiva… O medo da morte, que em muitos já existe desde a juventude, pode ser superado em grande parte pela consciência dos acontecimentos que ocorrem com a alma e o espírito após a morte.

Gudrun Burkhard