Momento de oportunidade ou oportunidade do momento?

No post anterior falamos do Enneagram e que as linhas que compõe a imagem ligando os 9 pontos são totalmente dinâmicas, sempre em movimento. Mais, você somente consegue compreender o Enneagram dentro de você, no seu interior, num, digamos, trabalho contínuo de autoconhecimento e consequente silêncio.

E Krishnamurti, disse num capítulo sobre o autoconhecimento:

“Para compreender esse processo, deve haver a intenção de conhecer o que é, seguir cada pensamento, sentimento e ação; e perceber isso é extremamente difícil, porque o que é nunca está parado, nunca é estático, está sempre em movimento. O que é, consiste no que você de fato é, não no que gostaria de ser; não é uma ideia, porque esta é uma ficção, mas na verdade aquilo que você está fazendo, pensando e sentindo de momento a momento. O que é é o real, e compreender isso exige realmente uma mente muito atenta e ágil. Mas se começarmos a julgar o que é, se começarmos a recriminá-lo ou oferecer resistência a ele, então não compreendemos seu movimento.”

E veja as preciosidades que diz Krishnamurti ainda muito atual (olha que disse isso já tempo, hein…):

“Os problemas do mundo são tão colossais, tão complexos, que para compreendê-los e resolvê-los devemos abordá-los de forma muito simples e direta; e simplicidade, objetividade não depende das circunstâncias externas nem de nossos preconceitos e preferências pessoais, Conforme tenho apontado, a solução não será encontrada por meio de conferências (para solucionar problemas mundiais), projetos ou mediante a substituição de líderes antigos por novos ou outras ações dessa natureza. A solução, obviamente, encontra-se naquele que cria o problema, no criador do transtorno, do ódio e da imensa incompreensão existente entre os seres humanos. O criador dessa perturbação, o criador desses problemas, é o indivíduo, você e eu, não o mundo como pensamos que seja. O mundo é o seu relacionamento com o outro. Ele não é algo separado de você e de mim; o mundo, a sociedade, é a relação que estabeleço ou procuro estabelecer com cada um. Portanto, você e eu somos o problema, e não o mundo, porque o mundo é a projeção de nós mesmos, e, para compreendê-lo, precisamos nos compreender. Ele não é separado de nós; nós somos o mundo, e nossos problemas são os problemas do mundo. Não podemos deixar de sempre ressaltar isso, porque temos uma mentalidade tão apática que achamos que os problemas do mundo não são de nossa conta, que devem ser resolvidos pelas Nações Unidas ou pela substituição de velhos líderes por novos. É uma mentalidade muito obtusa a que pensa dessa maneira, porque somos responsáveis pelo terrível sofrimento e pela confusão que ocorrem no mundo, este iminente estado de guerra.

Para transformar o mundo, devemos começar por nós mesmos; e o que importa ao iniciar por si mesmo é a intenção. A intenção deve consistir em compreender a nós mesmos e não deixar que os outros se transformem ou realizam uma mudança superficial por meio de uma revolução, seja de esquerda ou de direita. É importante compreender que esta é uma responsabilidade nossa, sua e minha; porque, por menor que possa ser o nosso mundo particular, se pudermos transformar a nós mesmos, criar um ponto de vista radicalmente diferente em nossa existência diária, talvez, então, possamos afetar o mundo como um todo, numa relação ampliada a todas as pessoas. Como tenho dito, vamos experimentar e investigar o processo de compreensão de nós mesmos, que não é um processo separativo. Não se trata de se retirar do mundo, porque você não pode viver no isolamento. Ser é estar em relação, e não existe essa coisa de viver isolado. É a ausência de uma relação correta que gera conflitos, sofrimento e luta; por menor que nosso mundo possa ser, se transformarmos nossa relação nesse mundo restrito, será como uma onda se ampliando para o exterior constantemente. Acho que é importante perceber este ponto: o mundo se constitui de nossas relações, ainda que limitadas; e se pudermos operar uma transformação aí, não uma transformação superficial, mas uma mudança radical, então poderemos realmente transformar o mundo. A verdadeira revolução não acontece de acordo com determinado padrão de esquerda ou de direita, mas por uma revolução de valores; de valores reais, e não superficiais ou originados a partir de influências do meio. Para descobrir esses valores verdadeiros que se originam a partir de uma revolução radical, uma transformação ou uma regeneração, é essencial compreender a si próprio. O autoconhecimento é o princípio da sabedoria e, por conseguinte, o início da transformação ou regeneração. Para compreender a si mesmo deve haver a intenção de compreender – e é nesse ponto que surge nossa dificuldade. Embora muitos de nós nos encontremos descontentes, e desejemos uma mudança súbita, nosso descontentamento é canalizado apenas no sentido de alcançar um resultado; estando descontentes, procuramos uma ocupação diferente ou simplesmente sucumbimos ao ambiente. O descontentamento, em vez de nos acender uma chama, provocando-nos um questionamento sobre ao processo total da existência, ele é afunilado, e, desse modo nos tornamos medíocres, perdendo aquele foco, aquela intensidade para descobrir o significado da existência como um todo.”

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