Tocando em frente, em liberdade

Ao poucos vamos percebendo que resistimos aos percalços da vida, não importa se temos grana ou não. Alegrias em alguns momentos e por vezes bate a tristeza, a dúvida, o questionamento com perguntas básicas sobre a vida. Diria que vivemos com as imagens que colhemos no transcorrer da vida e com as quais vamos adaptando-nos no dia a dia e as coisas vão rolando, o tempo inexoravelmente passando.

Lembrei-me da vida do Buda e faço um paralelo. O pai de Buda desejava que ele se tornasse um poderoso governante, porém, tinha informações que o futuro dele seria brilhante, mas não como governante. E fez de tudo, ao seu alcance, para que a vida de Buda fosse bem agradável, que tudo transcorresse em plena Paz, sempre no intuito de que Buda não quisesse sair do Palácio. Quando já estava adulto Buda violou a proibição do Pai e resolveu sair do Palácio, acompanhado do homem que o orientava. Este tentou de tudo para convencer Buda a não sair. E Buda saiu, para o mundo dialético do bem e do mal.

Encontrou um homem já bem velhinho, e perguntou ao seu guia se todos os homens ficavam velhos daquele modo, depois um homem doente, não se conformando de que um homem poderia ficar doente e fraco. E viu um homem que tinha falecido e ficou perplexo ao saber que os homens morriam. O que ainda mais o surpreendeu foi o contraste: encontrava pessoas tristes e doentes e outras muito felizes como se estivesse tudo perfeito, na mais perfeita ordem.

Buda percebeu também que uma vida somente com riquezas e prazeres era uma existência sem sentido, se questionando sobre haver algo mais, fora dessa vida tão triste onde se nasce, vive, fica doente, velho e vem a morte. Não teria algo mais após a morte? E tanto sofrimento? Concluindo que a alegria era sempre superficial.

E ele abdicou do trono, largou família e tudo, principalmente sua vida de abundâncias, e foi meditar e viver realmente sua vida, comendo pouco e meditando muito. E recebeu respostas interiores sobre a vida e que ela em realidade não se resumia ao nascer, viver e morrer, que tinha uma saída. Ganhou compreensão de uma realidade que não é transitória, uma realidade absoluta, além do espaço e tempo.

E cantam Renato Teixeira e Almir Sater:

Todo mundo ama, um dia todo mundo chora,
Um dia a gente chega, no outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz
De ser feliz.

Interessante a canção quando diz: carrega o dom de ser capaz, de ser feliz.

Como melhorar nossa vida, ou melhor, nosso dia a dia. Como melhorar, se existem problemas a todo instante nos incomodando, sejam financeiros, doenças, amigos que já não são amigos, familiares, ambiente competitivo e desumano no trabalho. A todo instante somos importunados por pensamentos, muitas vezes pensamentos aprisionadores e negativos, construídos e alicerçados em dados do passado, que foram acumulados, colados em nossa memória e são usados pelo nosso sistema humano totalmente dialético para se defender ou atacar seja quem for, e que aprisiona – essa é a verdadeira causa das doenças.

 

Buda largou tudo isso.

 

E se não estamos bem, sentimos falta de alguma coisa, vem a preocupação, o medo, a ansiedade – pois tudo que é externo não traz realização, não passa de um sonho. É possível sair desse circulo vicioso quando mergulhamos em nosso próprio ser a procura de questões, questões que aconteceram em nosso passado desde o nascimento. Poderíamos dizer também a experiência de vida atual e microcósmica. Trazê-las à luz da consciência, observar o que está ocorrendo. Do poço profundo do passado identificar cada questão e despi-la, observando sem interferências da consciência comum, que apenas contempla o que ocorre externamente.

O que fazer quando chegamos neste ponto? Percebemos, temos percepção da prisão, mas nos sentimos como que na correnteza da vida comum. A situação exige que procuremos auxílio. Esse auxílio está dentro de nós, a essência tem que falar mais alto. Ou auxílio exterior? Auxílio de um profissional da área de psicologia, que com seu trabalho auxilie para que se consiga identificar, observar essas nervuras em nosso ser. Problemas simples até demais que nos aprisionam e devem ser identificados, trazidos à luz para que possamos observá-lo sem julgamento ou punição. E não apenas para tocar a vida em paz, mas uma vida na verdadeira Paz interior. Este mundo é muito complicado devido sua dualidade, polos contrários muito próximos.

O importante, assim como Buda o conseguiu, é plena liberdade interior, para que o espiritual sobressaia. Isso é importante.

Essa psicologia moderna pode ajudar no verdadeiro equilíbrio do ser, livrando-o das pedras que tanto o incomodavam e não deixava de carrega-las, muitas vezes imperceptíveis e sempre aprisionadoras. Ter percepção da existência dessas nervuras tensionadas, que deverão perder sua tensão.

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