Relação homem – natureza

O rejuvenescimento e a imortalidade podem ser obtidos, segundo os mitos indianos, sul-africanos, australianos, com a ajuda de folhas, frutos, cascas e raízes. Os tagalos das Filipinas, os ialangues do Japão, os ainus da Coréia, e vários grupos primitivos da costa oriental da África, acreditam num indispensável relacionamento místico entre o homem e os vegetais. As plantas, para eles, são os antepassados da tribo, e delas procede a vitalidade humana. As árvores são fontes de vida e devem ser preservadas em todas as suas partes, exceto os frutos que podem e devem ser reverencialmente comidos. Por toda parte existiam os “cultos da vegetação”, através dos quais se mostrava que a natureza formava um todo indissolúvel com o ser humano, resultando dai o poder curativo e renovador dos vegetais, os quais representam “a realidade que se fez vida, que cria inesgotavelmente, que se manifesta em formas sem número” (Tratado de História das Religiões, de Mircea Eliade -Ed. Payot). A indiferença moderna em relação ao meio ambiente – superficialmente modificada na última década com alguns trabalhos sobre poluição – resulta da perda daquela consciência manifestada nos antigos mitos, comum às velhas culturas, Nenhum problema ecológico poderá ser modificado satisfatoriamente, se não tomarmos contato com o fato de que uma unidade (natureza – homem) foi fracionada arbitrariamente, e uma das partes esta tentando existir sem a outra, ou separada dela, o que é absolutamente impossível, porque ambas possuem o mesmo núcleo. Nosso afastamento em relação ao meio natural é produto de uma conclusão artificiosa: a de que “o mundo foi feito para nos servir. Agimos assim em relação aos animais, também. Aprendemos na escola quais são os animais úteis e quais são os nocivos, isto é, quais são os que podemos explorar de alguma forma (mesmo sutilmente, sob a capa de bondade com que gostamos de nos cobrir) e aqueles que nada têm que nos interesse. Face à flora ao mar, às reservas de água doce, à atmosfera, nossa atitude igualmente antropocêntrica. Somos o centro do universo e ele deve servir-nos. A exploração do meio ambiente alcançou um limite insuportável. Diante do perigo, o homem abre os olhos, parece que vai despertar, mas permanece à espera do milagre. Aquele milagre que multiplicará etermamemte as fomtes de energia, especie de maná que vai cair um dia sobre a terra, presenteando sem exigir retribuição. As plantas, os animais, o mundo mineral significam alguma coisa no seu conjunto, e se a razão humana não atina, em sua compartimentação sistemática, com esse significado, isso não autoriza o homem a servir-se irresponsavelmente das riquezas que o cercam. De fato, ele teria muito a ganhar, se observasse e ouvisse, e se tivesse humildade para fazer dos tagalos, ialangues e ainus, seus mestres, e do mundo em que vive, seu santuário”.   1980, Luiz Carlos Lisboa

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