Trabalhos em grupo

Modernos movimentos espirituais utilizam trabalhos em grupos. Interessante, não é? São muito importantes no tocante ao autoconhecimento e abertura de espaço, em cada participante, para que se desenvolva espiritualmente. Algo como, 1 em todos e todos em 1. Os trabalhos em grupo do movimento Diamond Approach têm abertura para participação em grupos já formados, a cargo do mentor do mesmo. Lembro ainda da Távola Redonda e suas reuniões. Assim, também temos a Santa Ceia.

Wilfred Bion, durante a guerra, trabalhou com grupos e já falava da geração de um filho no grupo (lembrando a figura de Galaad) dentro das limitações da época e guerra. 

Do trabalho de Edilene de Lima em sua tese pinçamos: A Noção de Cura em Bion: “O “bom espírito do grupo” está relacionado às seguintes condições: ter um objetivo comum ou propósito compartilhado; reconhecer os limites do grupo e sua relação com grupos maiores; ter certa flexibilidade para absorver novos membros e perder outros, sem perder a identidade grupal; garantir a liberdade para surgir subgrupos, e encará-los como importantes para o grupo principal; liberdade de movimento para cada membro individualmente e reconhecimento de suas contribuições; o grupo deve desenvolver capacidades para enfrentar e lidar com os descontentamentos internos; o grupo deve ter no mínimo três pessoas, como garantia de estabelecer relações interpessoais”.

No Círculo criado por Merlin todos seriam iguais, não brigando por status ou posição, não tinha a cabeceira na mesa e para sentar-se nela tinha que ser um nobre, código de honra e serviço prestado. E numa reunião Merlin disse-lhes: “de agora em diante vocês devem se amar e se abraçar como irmãos, nascerá em seus corações uma grande alegria e amizade e deixarão tudo para trás para ficarem juntos e passarem a juventude juntos”

A Távola Redonda utilizava o círculo com símbolo da perfeição, e cuja disposição dos participantes ao seu redor geraria uma harmonia – união e unidade entre os 12. Também tem relação com o movimento celeste e zodiacal onde os participantes poderiam ter correspondência. Um assento vago no centro do Templo de Luz formado corresponde a Cristo, o local onde o cavaleiro mais virtuoso poderia sentar-se – pureza e paz de espírito – Galaad. Levando isso em conta, apenas o cavaleiro mais puro conseguiria efetivamente encontrar o Graal. Esse cavaleiro é o “melhor cavaleiro do mundo”: Galaad.

É considerado pelos narradores que o Rei Arthur seria o Mentor do grupo por ser um Rei que conseguia unificar todo um reino. Porém, o Rei Arthur mesmo não é o fim do processo – somente um cavaleiro puro e livre poderá encontrar o Graal. Por isso, Galaad é o eleito. Praticamente todos os cavaleiros da Távola Redonda eram nobres: tinham boas qualidades pessoais ou altos princípios e ideais morais. Um nobre digno, louvável, generoso, que merece atenção pelo seu valor.

Para os celtas, o círculo possui características mágicas e celestes, estando presentes em vários de seus símbolos.

Para o trabalho com grupos é preciso ter um mapa e uma bússola, para haver condição (e ainda não a garantia) de saber onde se quer chegar e de como fazer para isso.

Sobre a efetiva participação (real presença) de todos do grupo no ensino do Diamond Approach fazem estas perguntas: “Diga-me algo que impede você de estar aqui e agora?”   “Diga-me algo que você está experimentando agora?”

Jean-Paul Sartre apresentou uma teoria acerca de grupos. No grupo sartreano, as liberdades se associam, agregam esforços e lutam juntas para transformar uma situação, com vistas a um fim comum. Suas condições preliminares são: estar em um campo comum, ter a urgência de um fim comum, a crença de que a solução está no grupal e contar com o ímpeto de todos. Para Sartre, os próprios membros do grupo criam o grupo que é uma união de interioridades, cada membro unifica os demais, o papel de terceiro unificador circula entre os membros do grupo (isso lembra Wilfred Bion). É possível unificar os outros em um todo objetivo. Já não existem ―outros, mas vários ―eu mesmo (1 em 12, 12 em 1= 13): Sartre defende que o todo se encontra em cada parte que interioriza esse todo. Um grupo trabalhando num tópico específico é um sistema que age como um todo, e o que afeta uma parte afeta o todo.

A presença ativa na reunião propicia que o membro do grupo entre em contato com ele mesmo no momento presente (aqui e agora), tornando-se mais consciente de suas sensações e sentimentos, observador de si mesmo. Sua experiência interior aflora através de sua fala e até expressão corporal. A confidencialidade do que é tratado no grupo é questão básica, para facilitar possível exposição de sua intimidade, uma pedra que precisa ser dissolvida no grupo.

Vivenciando o momento como a única opção, aprofunda-se na experiência mais rica do que acreditamos ser esse mergulho interior. É justamente a vivência do presente e a comunicação da experiência presente aos amigos do grupo que purifica o ser e o grupo.

[…] Contra a noite, depois de muita preparação e vivência, quando se assentaram à mesa ouviram um trovão tão grande e espantoso. E logo depois do trovão, entrou uma tão grande claridade, que tornou o espaço dois tantos mais claro que era antes – estavam sentados, e logo todos foram repletos da graça do Espírito Santo e começaram a olhar uns aos outros, e viram-se muito mais formosos, muito mais do que costumavam ser, e maravilharam-se muito com essa vivência e não houve quem pudesse falar por muito grande tempo, estavam calados e olhavam-se uns aos outros.

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