Jacob Boehme, o que nos aprisiona

E Jacob Boehme indica num dos seus livros:

“Sobre o auto-conhecimento diria que nada é mais necessário e útil ao homem neste vale de lágrimas sobre a terra do que conhecer a si mesmo. De onde vem, onde vai pós morte, onde que ir, o que aspira. Quem ama o reino dos céus que preste atenção em si mesmo. Deves deixar de lado tudo o que há neste mundo, por mais reluzente que seja, e mergulhar em si mesmo, liberar o que te prende neste mundo. Imagens que atrapalham: orgulho- desejo de poder, autoridade e honras; cobiça- quer tudo para si; inveja; cólera ou ira-  ataque no desejo de justificar-se; paixões animais.”

É, Boehme é muito duro nas suas afirmações. E como seria hoje, por exemplo, falando da vontade que nos move e resumindo o que nos disse acima Boehme – Khrisnamurti em uma de suas palestras disse:

Necessitamos de muita energia, vitalidade e empenho para realizar uma transformação radical em nós mesmos. O fato é que desperdiçamos muita energia tagarelando, cultivando incontáveis opiniões sobre as coisas, convivendo com fórmulas e conceitos, e num infindável conflito interior. O que vemos é que os seres humanos desperdiçam energia – em disputas, ciúme, ansiedade, na interminável busca de prazer. É claro que isso é perda de energia. E não será também perda de energia manter opiniões e crenças sobre as coisas – o comportamento dos outros, o que os outros devem fazer etc.? A vontade, contudo, independe do fato. Vontade é afirmação pessoal, do “eu”, sem levar em conta “o que é”. Vontade é desejo; é a manifestação do desejo. Nessa afirmação de resistência do desejo, como vontade, que nenhuma relação tem com o fato, mas depende do desejo pessoal, do eu, vivemos superficial ou profundamente. A vontade é uma forma de resistência, divisão. A vontade pertence à velha cultura que envolve ambição e desejo, auto-afirmação e agressividade do eu. Para que haja um modo de viver inteiramente diferente, precisamos compreender a questão básica: pode haver ação livre de fórmulas, conceitos, ideais ou crenças? A ação que se baseia no conhecimento, isto é, no passado e, portanto, condicionada, não é, de fato, ação. Sendo condicionada pelo passado e dependendo dele, só pode provocar discórdia e, desse modo, conflito. Por conseguinte, quero ver se é possível um tipo de ação livre de vontade e escolha. Pode haver ação livre de tudo isso de modo que a mente viva neste mundo, utilizando o conhecimento e, ao mesmo tempo, livre das limitações do conhecimento?

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E continua Khrisnamurti:

Assim, a mente precisa aprender a olhar. Para mim, esse é o problema básico. Mas pode essa mente, produto do tempo, de culturas diversas e diversas experiências e conhecimentos, pode essa mente olhar com olhos descondicionados? Pode ela funcionar livre de seu condicionamento? Por conseguinte, preciso aprender a olhar para o meu condicionamento sem qualquer intenção de mudá-lo, transformá-lo ou transcendê-lo. Preciso ser capaz de olhá-lo como ele é. Se quiser mudá-lo, volto a agir pela vontade. Se quiser fugir dele, ainda estou resistindo a ele. Se aceito uma parte e rejeito a outra, isso ainda significa escolha. E escolha, como já frisamos, é confusão. Posso, portanto, pode esta mente olhar sem qualquer resistência, sem qualquer escolha? Posso olhar as montanhas, as árvores, meu vizinho, minha família, os políticos, os sacerdotes sem qualquer imagem? A imagem representa o passado. Por conseguinte, a mente tem de ser capaz de olhar. Quando olho o que é em mim mesmo e no mundo, sem resistência, então, graças a esta observação, ocorre uma ação imediata que não resulta da vontade. Entendem?”

 

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